quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Paz, Carnaval e Futebol

A música é da Cláudia Leite (de quem, particularmente, não sou fã), entretanto devo concordar com ela no seguinte: Não mata, não engorda e não faz mal. Acabou de passar a minha época favorita do ano. Ah, o carnaval! Essa grande festa cheia de brilho, de cor, de fantasia e de brincadeira. Adoro! Mas esse texto não vem falar de particularidades, de gosto pessoal. Gostar ou não gostar do carnaval (ou de qualquer outro dia, qualquer outro feriado, qualquer outra coisa) é uma questão íntima e cada um sabe de si. Minha crítica é com relação as críticas que se fazem a paz, ao carnaval e ao futebol.

“A corrupção rola solta e o povo aí se preocupando com futebol e com carnaval”, se você nunca ouviu uma frase nesse estilo: PARABÉNS, você acaba de ganhar uma casa mobiliada na Europa, basta ligar para 0800... enfim, você é uma pessoa de muita sorte. A classe média intelectual adora desmoralizar o gosto popular, falar da política do “pão e circo”, ah, a política do pão e circo! Essa malandrinha que se ilude achando que alguém pode ser feliz sem um IPhone e uma assinatura da revista Veja.

Primeiramente quero dizer que é muita ignorância achar que carnaval e futebol são elementos apolíticos. Qualquer um que se preocupe em estudar o mínimo que for a respeito de ambas as coisas verá que tanto a festa quanto o esporte estão fortemente ligados a história política e cultural do nosso país (porque desculpa galera Cult, mas praia, caipirinha, samba e etc fazem SIM parte da nossa cultura, get over it). Eu, como torcedora roxa do Corinthians, conheço lindos momentos da história do meu time, como quando pedíamos por democracia em plena ditadura (créditos ao nosso querido Doutor Sócrates) e, tenho certeza, os outros times também tem muita história bonita para contar. O carnaval, então! Ainda tem gente que ousa dizer que não é uma festa genuinamente brasileira... por favor, né! Valorizar mais a inspiração européia do que a história da escravatura, dxs negrxs, do samba e do que o Carnaval representa hoje em dia para nós é desconsiderar e desmoralizar o povo brasileiro.

E por falar em desmoralizar o povo brasileiro, é exatamente isso que o argumento da “política do pão e circo” faz. Rebaixa a população a um nível quase de objeto, de mero receptor da mensagem (exceto a classe média inteligente, claro). Nós somos colocados numa categoria de sujeitos inertes. O governo joga o que for mais fácil no povo e nós aceitamos caladinhos, sem protestar, sem contestar, sem escolher, sem um pingo de atitude... como se a população não tivesse capacidade sequer de escolher aquilo que gosta, como se fôssemos fantoches (já disse e repito: exceto a classe média, que é consciente e inteligente) diretamente dependentes das mãos de quem está “por cima”.

Bom, sinto informá-los, mas não somos. A população tem poder, tem escolha e por menor que sejam suas oportunidades, tem pequenas atitudes políticas dentro de seu meio. Não manifestamos nossa atitude política apenas da hora do voto. Cada uma dessas pequenas atitudes está lotada de contexto, de simbologia, de manifestação cultural e política, inclusive sambar no carnaval.

Por fim, a classe média ignora o direito do povo a felicidade. Um povo que não vive no modelo ideal não pode ser um povo feliz. Claro que a classe média tem direito a ir aos bares, beber sua cerveja, fumar seu lucky strike e rir aos finais de semana. Mas o trabalhador brasileiro não. Gostar de carnaval e futebol é tido como sinônimo de ignorância, afinal, não pode se alegrar um povo consciente e inteligente. Pois não é. Festar não é ignorância, gostar de seu país, de suas tradições e cultura não é falta de consciência política. Aproveitar as coisas boas desse lugar abençoado por deus e bonito por natureza1 não significa ser manipulado e passivo frente aos outros aspectos que nos rondam. Felicidade não é burrice. Burrice é esse elitismo todo que acha que só é inteligente quem estudou em escola particular e gosta de jogar xadrez.

No carnaval, esperança, que gente longe viva na lembrança, que gente triste possa entrar na dança, que gente grande saiba ser criança.2

1 Jorge Ben
2 Chico Buarque

7 comentários:

  1. Parabéns pelo texto Paula. Sempre é válido lembrar que as manifestações populares refletem mais que um momento, mas também a história de um povo.
    bjos

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    1. AHAHAHAHA!! Ela mesma se parabenizou por um texto que escreveu.

      Como eu disse, os apreciadores do carnaval são iguaizinhos ao Cordeirinho.

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    2. A mãe dela leu o texto e comentou sem ver que estava logada, José Henrique.

      E adorei seu argumento que demonstra que você é dono de uma inteligência (e tolerância) ímpar: quem gosta de carnaval comenta no próprio texto e é esse o seu melhor argumento.

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    3. Hahaha mãezinha vai adorar saber que seu comentário recebeu um troll.

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  2. Perfeito o texto. Explica todo o ódio classe-média contra o povão brasileiro fumante de Derby. O engraçado é que nunca se vê ninguém falar da Inglaterra (país que é considerado ainda mais fanático por futebol do que o Brasil), Alemanha, Espanha, Itália, Argentina e tantos outros países também apaixonados, mas com sempre com sua "intelectualidade e consciência política" incontestáveis. Além do mais, se vê a paixão por outros esportes em outros países, como o beisebol, basquete e futebol americano nos EUA, além de diversos esportes pouco conhecidos, mas não menos dignos de paixão em todo canto do mundo. A paixão por esporte é normal em todos os países, as festas populares são comuns e a corrupção também. E pouco se relacionam entre si. O foda é ter que ouvir tantos preconceitos e alienações também tão comuns na classe média lucky strike brasileira.

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  3. Você gosta de carnaval? Então você é igualzinha ao cara do vídeo abaixo:

    http://www.youtube.com/watch?v=7FUBxK_N8NE

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