sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Comunicado

Olá leitores,

resolvemos fazer essa postagem para informá-los que o Ativismo de Sofá está hospedado atualmente na Revista Fórum. Para acessar nossos textos desse ano, basta clicar aqui.

Algumas pessoas nos enviaram e-mails perguntando se tínhamos parado de escrever e assim descobrimos (quase dez meses depois) que muitos que nos acompanhavam não sabiam da mudança de endereço por não terem visto o comunicado que fizemos em nosso twitter e na nossa página do Facebook. Nos desculpamos por não termos comunicado também aqui no blog na época da mudança e por estarmos atrasadas quase dez meses para escrevermos essa nota. Espero que continuem nos acompanhando na nova hospedagem e nas nossas redes sociais.

Lista de textos do ano de 2015, até a data dessa postagem:

Vídeo italiano sobre violência contra a mulher: e o consentimento?

#PorqueNãoMeCalo

O mundo da arte e a musificação das mulheres 

Casamento igualitário: uma pauta conservadora?

A seguridade social e a população T

Descaso com a educação e violência estatal, o que isso mostra? 

Seu blackface terá nosso backlash. Sempre. 

Mecenas feministas 

Garotinha sofre injúria racial por se vestir de Frozen 

Limpeza Étnica na República Dominicana

Assédio não é elogio à beleza feminina  

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Machismo e a naturalização da violência psicológica

Esse meu texto foi publicado no site Maria Conta. Pedi para republicá-lo no blog por causa do dia 25 de novembro ser o dia internacional de combate à violência contra mulher. O projeto Maria Conta é uma homenagem aos 8 anos da Lei Maria da Penha. É uma plataforma que visa reunir informações relevantes sobre a lei e investigar o que mudou de lá pra cá. Para isso, os organizadores do site, que são alunos do curso de Comunicação Social da UFMG, conversam com juízes, pesquisadorxs, mulheres que já utilizaram a lei, ou qualquer pessoa que tenha relação com o tema e que queira se expressar de forma livre. O projeto também tem página do facebook, confira aqui.

"Não existe mulher que gosta de apanhar. O que existe é mulher humilhada demais para denunciar,
machucada demais para reagir, com medo demais para acusar e pobre demais para ir embora"
A criminalização da violência doméstica no país, através da Lei Maria da Penha, aconteceu após o Brasil ser condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por negligenciar e ser omisso com a violência contra a mulher. A importância da lei específica é inegável, porque foi a partir dela que o pensamento “em briga de marido e mulher, não se mete a colher” passou a ser mais questionado. Ao criminalizar agressões domésticas contra mulheres, um comportamento usualmente visto como um problema privado e apenas uma briga de família, passou a ser tratado como uma questão pública.
Só que a Lei Maria da Penha, após os oito anos de existência, não se mostrou suficiente para solucionar o problema da violência doméstica. Os aspectos culturais machistas e misóginos continuam vigentes e eles não estão dissociados da violência em si.
A romantização de relacionamentos abusivos que se baseiam em controle e ciúme se faz presente e acaba por naturalizar comportamentos problemáticos que podem evoluir para a violência física. Novelas apresentam homens ciumentos, controladores e possessivos como galãs. Essa romantização acaba por perpetuar que o amor é indissociável da ideia de posse e isso é tão questionável porque uma das motivações mais comuns para o feminicídio é o ciúme.
O uso do termo “crime passional” relativiza assassinatos cometidos contra mulheres motivados pela misoginia. Ao vincular o amor e a paixão ao cometimento de crimes perpetua-se que controle, ciúme e posse fazem parte do amor e que os agressores ao assassinarem suas companheiras ou ex-companheiras, o fizeram por estarem “doentes de paixão”.
O controle e a posse partem da concepção de que mulheres são propriedades de seus pais e maridos, o que é uma forma de desumanização. Ainda hoje, mulheres são cobradas a serem submissas aos homens e a violência doméstica muitas vezes se manifesta com justificativas que partem do pensamento que a mulher deve servir e que se ela não obedeceu, ela merece uma lição.
O ciclo da violência doméstica é difícil de ser quebrado por causa dos vários aspectos culturais, sociais e econômicos que estão naturalizados em nosso cotidiano. O controle das roupas, dos lugares que a mulher frequenta e a violência psicológica que se manifesta com incessantes ataques verbais ao corpo e comportamento da parceira é a primeira fase desse ciclo tão difícil de ser destruído. Comportamentos como esses descritos são muitas vezes vistos como parte de relacionamentos considerados “normais”.
A violência psicológica, que é uma das violências que a Lei Maria da Penha tem a intenção de coibir, é ainda vista como aceitável. Essa aceitabilidade se pauta na visão de que a mulher deve ser submissa ao homem, por ser inferior a ele. Deve-se também ao fato de que se espera determinados comportamentos de uma mulher, como falar baixo, usar roupas comportadas, cuidar da casa e dos filhos. A violência muitas vezes é justificada pelos agressores com argumentos como “ela saiu da linha”, “eu sei o que é melhor para você” e frases que tem intenção de atacar a autoestima da mulher para que ela acate o que se espera dela, através do uso de frases como “você não me ama o suficiente” e “eu vou me cansar de suas frescuras e você ficará sozinha, ninguém vai te querer”.
A dependência emocional é construída dentro e fora do relacionamento. Ainda hoje há a cobrança, através de costumes, para que a mulher tenha um parceiro, para que se case com um homem, constitua família. Uma mulher sozinha, além de ser vista como desagradável e mal amada, ainda é desqualificada por não ter um parceiro. Os costumes dizem que a mulher deve manter o homem apaixonado e a culpa por qualquer falha no relacionamento é considerada sempre dela. Ela é colocada como a responsável pela manutenção da harmonia ali. É quase um ditado popular a frase “quem não tem em casa, procura fora” que coloca a culpa da traição em cima da mulher, além de influenciar que uma pessoa numa situação de vulnerabilidade, sinta-se coagida a práticas sexuais que não tem vontade.
"Na violência contra a mulher
a gente mete a colher"
Mesmo ao sair de um relacionamento abusivo, o rompimento é visto como um fracasso da mulher que falhou na obrigação de manter a estrutura familiar. Assim como as agressões são vistas como motivadas pelo comportamento da própria vítima, o rompimento também é carregado de culpa. Essa culpa é resultado da violência psicológica a que a mulher foi submetida e é alimentada pela culpabilização da vítima feita em todos os âmbitos sociais, incluindo o Judiciário e a Polícia.
A violência psicológica é tão naturalizada que sequer é percebida como um mal dentro de um relacionamento. O machismo normaliza comportamentos perigosos e para coibir a violência doméstica e outras violências contra a mulher é necessário que se combata com veemência os aspectos culturais que reproduzem dinâmicas de opressão. Além de melhorar a aplicação da Lei Maria da Penha em si, aumentar o número de delegacias especializadas e proporcionar um atendimento 24 horas, treinar os policiais e profissionais de saúde que prestam o atendimento às vítimas e outras ações, também é necessário viabilizar políticas públicas que combatam o problema desde a raiz, que é o machismo simbólico  que nos é ensinado desde crianças.

Publicado originalmente aqui.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

40 escritoras para ler antes de morrer

A literatura é um espaço predominantemente branco, masculino e hétero. As listas de leitura obrigatória das escolas e de livros premiados são uma amostra de como mulheres escritoras são desvalorizadas pelas editoras e às vezes pelos próprios leitores. Clarice Lispector e Cecília Meireles, por exemplo, são os poucos nomes femininos que aparecem listados. 

Como mulheres sequer são vistas como sujeito, a literatura escrita por elas é muitas vezes definida como "livros para mulheres", como se mulheres não fossem capazes de escrever livros tão bons e interessantes como homens e como se o que é escrito por mulher não fosse digno de atenção da ala masculina. J. K. Rowling, autora da saga Harry Potter e do livro "A morte súbita", recebeu o conselho da editora de usar suas iniciais para assinar seus livros para que assim eles também atraíssem a atenção masculina e vendessem mais.

Como os livros escritos por mulheres são vistos como componentes da chamada "chick list", até mesmo a arte das capas desses livros refletem estereótipos de gênero. Numa sociedade misógina como a nossa, capas delicadas, baseadas em normas de gênero, por exemplo, não atrairão um público tão amplo já que muitas pessoas querem se afastar ao máximo do que é considerado culturalmente como feminino. 

Quando falamos sobre a baixa representatividade de escritoras mulheres ou de escritores negros, sempre ouvimos que mulheres, sejam negras ou brancas, e homens negros são mais raros nesse mundo bem restrito por "incapacidade" e não pelos motivos reais, que são a falta de oportunidade e até mesmo o apagamento dado aos membros desses grupos nos livros de história e literatura. 

Diante desse cenário, projetos como a Alpaca Editora e Lendo Mulheres, que buscam incentivar a leitura de autoras, são essenciais. Se você é uma pessoa que está interessada em ler mais obras escritas por mulheres, quer valorizar "as minas", mas não sabe por onde começar, seus problemas acabaram! Fique com essa lista de nomes de escritoras e suas principais obras:
35 escritoras e suas principais obras

Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus foi uma mulher negra e brasileira que teve um de seus livros traduzido para 13 idiomas. Sua obra mais conhecida é "O quarto de despejo", um livro que é um diário que conta o cotidiano e as reflexões dela como mulher pobre e negra vivendo nos anos 50 numa cidade grande. Outras obras: "Pedaços da Fome" e "Casa de Alvenaria". 

Anne Rice escreve séries de livros de terror e fantasia. Seu maior sucesso literário é "Entrevista com o vampiro" que foi adaptado posteriormente ao cinema. Outras obras: "A rainha dos condenados", "Tempo dos anjos", "Os lobos da invernia" e "A dádiva do lobo".

Alice Walker escreveu "A cor púrpura", livro premiado com o Pulitzer e que foi adaptado para o cinema. Outras obras: Vários livros de poesia, romance e não ficção em inglês, como por exemplo: Once, Meridian e outros, mas em português sei que foi publicado no Brasil: "O templo de meus familiares", "Vivendo pela palavra" e "Rompendo o silêncio".

Ana Cristina César foi uma poetisa brasileira. Conheci um pouco de sua obra no livro "26 poetas hoje", uma coletânea de vários poetas e poetisas de uma época. Obras: "Luvas de Pelica", "A teus pés", "Inéditos e dispersos" e outros. É possível adquirir o livro "Ana Cristina César - Poética" que contem toda sua obra reunida. 
Chimamanda Adichie

Alice Ruiz escreveu 21 livros, entre eles poesias, haikais, traduções e até uma história infantil. Recebeu o prêmio Jabuti pela obra "Dois em um". Também compõe letras de músicas. Obras: "Nuvem feliz", "Desorientais", "Dois haikais", "Estação dos bichos" e outros. Confira as outras obras nesse link

Chimamanda Adichie é uma escritora nigeriana e muito conhecida pela sua palestra no TED sobre "O perigo das histórias únicas" e "Todos nós deveríamos ser feministas". Ganhou ainda mais notoriedade quando seu discurso sobre feminismo foi incorporado na música Flawless da Beyoncé. Obras: "Americanah", "Hibisco roxo", "Meio sol amarelo"

Léonora Miano nasceu em Camarões e se naturalizou francesa. Foi a primeira autora de origem africana a ganhar o prêmio Femina. Obras traduzidas: Até então só achei "Contornos do dia que vem vindo". 

Louisa May Alcott escreveu obras infanto-juvenis. Obras: "As quatro irmãs", "As filhas do Dr. March" e "Mulherzinhas".

Marguerite Duras escreveu peças de teatro, novelas, filmes e narrativas curtas. Obras: "O amante", "O amante da China do norte" "Barragem contra o pacífico" e "Cadernos da Guerra e outros textos".

Xinran
Xinran é uma chinesa que publicou vários livros, o título "As boas mulheres da China" conta diversas histórias de mulheres que ela entrevistou e mostra as dificuldades das chinesas quanto ao machismo. Outras obras: "Enterro Celestial", "Mensagens de uma mãe chinesa desconhecida", "O que os chineses não comem", "As filhas sem nome" e "Testemunhas da China". 

Mary Shelley é autora do clássico da literatura Frankenstein e sua obra "O último homem" tem muita influência no mundo da ficção científica. Outras obras: "Mathilda" e "Lodore".

Regina Navarro Lins é autora de 11 livros e escreve sobre relacionamento amoroso/sexual. Obras: as mais conhecidas são "A cama na varanda" e "O livro do amor". 

Ava Dellaira publicou seu primeiro livro, nomeado no Brasil de "Cartas de amor aos mortos". No momento trabalha na indústria cinematográfica, enquanto escreve sua segunda obra. "Cartas de amor aos mortos" conta a história de uma menina que perdeu a irmã mais velha. Prestes a iniciar o ensino médio, ela resolveu mudar de escola para fugir das pessoas comentando o falecimento, mas no colégio novo, a professora propõe a tarefa de escrever uma carta para alguém que já morreu.

Adélia Prado é uma poetisa que nasceu e vive em minha cidade, Divinópolis. Obras: "O Pelicano", "O homem da mão seca", "Terra de Santa Cruz", "Manuscritos de Felipa" e outros.

Marjane Satrapi é uma romancista gráfica que nasceu em Teerã, no Irã. Obras em português: "Persepolis", "Frango com ameixas" e "Bordados". 

Suzane Collins escreveu a saga "Jogos Vorazes" e criou uma personagem feminina incrível que é a Katniss Everdeen. A saga é dividida em três livros e os dois primeiros já foram transformados em filmes. Obras: ela também escreveu "As crônicas do subterrâneo", que é composto por cinco livros.

Lionel Shriver é jornalista e escritora. Escreveu "Precisamos falar sobre Kevin", livro posteriormente adaptado para o cinema. Outras obras traduzidas para o português: "O mundo pós-aniversário" e "Tempo é dinheiro" (Título original: "So much for that").

Maya Angelou tem uma vasta obra, mas infelizmente parece não haver muitos livros dela traduzidos para o português. Só achei o "Carta a minha filha", mas para quem lê em inglês, cito "On the pulse of morning", "I know why the caged bird sings" e "The heart of a woman".

Marina Colasanti publicou 33 livros. Alguns contos, histórias infantis e poesia. Obras: "Hora de alimentar serpentes", "Uma idéia toda azul, "Minha guerra alheia", "Poesia em 4 tempos" e outros que você pode conferir nesse link aqui.

Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir foi escritora e filósofa. Muitas pessoas acham que a única obra de Simone foi "O Segundo Sexo" e só a conhecem como feminista e não sabem que ela também escreveu romances. Outras obras: "Os Mandarins", "A convidada", "A cerimônia do adeus", "A longa marcha", "A mulher desiludida" e "As belas imagens".

Anaïs Nin é um nome para quem gosta de literatura permeada de um certo erotismo. Obras: "Pequenos Pássaros", "Delta de vênus" e "Fogo".

Carola Saavedra é uma escritora e tradutora que nasceu no Chile, mas veio para o Brasil aos três anos de idade. Recebeu o prêmio APCA de melhor romance pelo livro "Flores azuis". Obras: "Flores azuis", "O inventário das coisas ausentes", "Toda terça", "Paisagem com dromedário" e "Do lado de fora". 

Charlaine Harris escreveu a série "The Southern Vampire Mysteries" que conta as aventuras de uma garçonete telepata que é amiga de vampiros, lobisomens e outras criaturas estranhas. A série True Blood é baseada nessa série de livros. Outras obras: série "Aurora Teagarden" e série "Shakespeare".

Cora Coralina foi uma poetisa e contista brasileira. Obras: "Meu livro de cordel", "Tesouro da Casa Velha", "A moeda de ouro que o pato engoliu", "Vintém de cobre - meias confissões de Aninha".

Virginia Woolf
Virginia Woolf foi uma das representantes do modernismo, escritora, editora e feminista. Pra mim a principal característica de sua escrita, é que cada linha diz mais do que aparenta dizer. Escreveu "Um teto todo seu", "As Ondas", "Noite e dia", "Mrs. Dalloway", "Orlando", "Quarto de Jacob" e outros. 

Elvira Vigna é uma escritora, ilustradora e jornalista brasileira. Já recebeu o Prêmio Jabuti como ilustradora e como escritora de livros infantis. Ela começou sua carreira escrevendo literatura infanto-juvenil, mas hoje tem romances e contos publicados fora desse nincho. Seu livro "Nada a dizer" recebeu o prêmio de ficção da Academia Brasileira de Letras. Outras obras: "Por Escrito" e "O assassinato de Bebê Martê". Conheça mais títulos no seu site pessoal

Jane Austen foi uma escritora inglesa que hoje é considerada autora de obras clássicas. Suas obras mais conhecidas são "Orgulho e Preconceito" e "Razão e Sensibilidade", visto que foram adaptadas para o cinema. Outras obras: "Persuasão", "Emma" e "Mansfield park".

Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista. Escreve em alguns portais jornalísticos brasileiros como colunista, mas já se enveredou também para o mundo dos romances ao escrever "Uma Duas". Obras: "A vida que ninguém vê", "A menina quebrada" e "Meus desacontecimentos".


Conceição Evaristo
Conceição Evaristo é uma escritora brasileira que conciliou os estudos com o trabalho de empregada doméstica. Suas obras abordam temas como discriminação racial, de gênero e de classe. O romance "Ponciá Vicêncio" foi traduzido para o inglês e publicado nos EUA. Outras obras: "Becos da Memória" e "Insubmissas lágrimas de mulheres".

Lygia Bojunga é uma escritora brasileira que escreve literatura infantil e infanto-juvenil. Sua obra já foi traduzida para 13 idiomas, entre eles japonês, sueco e espanhol. Obras: "Corda Bamba", "Retratos de Carolina", "O sofá estampado" e "Os colegas".

Toni Morrison recebeu o Nobel de Literatura em 1993. Seus romances retratam a vida de mulheres negras nos EUA. Seu livro "O olho mais azul" é um verdadeiro estudo de raça e gênero. Obras: "Paraíso", "Jazz", "Amada", "Amor" e "Tar Baby".

Paulina Chiziane
Paulina Chiziane nasceu em Moçambique e foi a primeira mulher de seu país a publicar um romance. Obras: "Balada de amor ao vento", "Niketche: uma história de poligamia", "O alegre canto da Perdiz" e "Ventos do apocalipse" 

Nadine Gordimer publicou mais de trinta livros e foi uma das vozes sul-africanas contra o apartheid. Seus livros ganharam notoriedade internacional e ela recebeu um Nobel de Literatura em 1991. Obras: "O melhor tempo é o presente", "O engate", "De volta à vida" e "Contando histórias".

Lygia Fagundes Telles é uma escritora brasileira que já ganhou o Prêmio Camões. Obras: "Ciranda de Pedra", "Verão no Aquário", "As horas nuas", "O cacto vermelho", "Seminário de ratos" e "Antes do baile verde".

Cristiana Sobral é atriz e escritora. Obras: "Cadernos Negros", "Não vou mais lavar os pratos" e "Espelhos, miradouros, dialéticas de percepção".

Mais cinco escritoras feministas brasileiras da atualidade

Aline Valek
Aline Valek é uma escritora feminista brasileira. Você pode acompanhar o trabalho dela através do seu site ou mesmo assinar a newsletter "Bobagens Imperdíveis". Um dos textos dela que eu faço questão de indicar se chama "Apoie a escritora" e fala sobre o livro "Um teto todo seu", escrito pela Virginia Woolf. Nesse texto, Aline mostras as dificuldades baseadas em machismo e misoginia enfrentadas pelas escritoras. Outras indicações: "Gatos são mulheres que não se dão ao respeito", "Quem me estuprou", "Corpo que", "Troca de mensagens", "A escola me ensinou", "Dentucismo" e "Descobri que meu gato é deus"

Lady Sybylla é uma entusiasta da ficção científica. Também é feminista, professora e geográfa, além de blogar no site "Momentum Saga". Junto com a Aline Valek organizou uma coletânea de contos chamada "Universo Desconstruído". Seu conto no livro se chama "Codinome Electra". Juntas também disponibilizaram "O sonho de Sultana", escrito pela Roquia Sakhawat Hussain, tal obra é considerada a primeira história de ficção científica feminista.

Jarid Arraes é uma feminista que escreve cordéis e textos de opinião no "Questões de gênero" da Revista Fórum. Alguns títulos de seus cordéis são "Chica gosta é de mulher", "Dandara dos Palmares", "Dora, a negra e feminista", e "A menina que não queria ser princesa". Você pode adquirir os cordéis através do site pessoal da autora.

Alliah é genderfluid, feminista, escritora e artista visual. Você pode conhecer o seu trabalho assinando a newsletter "Alliahverso".

Clara Averbuck é escritora e também feminista. Escreve no site "Lugar de Mulher" e já publicou alguns livros, como "Vida de gato", "Das coisas esquecidas atrás da estante", "Cidade Grande no Escuro" e está escrevendo "Toureando o Diabo". Conheça seu site pessoal.

Observação: coloquei na lista escritoras que tivessem ao menos uma obra traduzida para o português. Gabriela Mistral, Audre Lorde, bell hooks*, Emily Dickinson e outras ficaram de fora por isso. Tentei mesclar indicações de escritoras mais conhecidas com outras que não são tão famosas assim, por isso vocês vão sentir falta de nomes como Rachel de Queiroz, Hilda Hilst, Hannah Arendt e as irmãs Brontë. 


Alguns nomes históricos: Teresa Margarida da Silva e Orta, Pagu, Rosa LuxemburgoMaria Firmina dos Reis e Maria Lacerda de Moura.

Literatura de/para/sobre mulher não é subgênero - texto de Gizelli Sousa

Fiquem à vontade para acrescentar mais e mais indicações na caixa de comentários. 

Nosso texto também foi republicado no site da Revista Fórum

* bell hooks tem a obra "Ensinando a transgredir" traduzida em português e Audre Lorde tem artigos científicos traduzidos. 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ver ou não ver fotos vazadas: uma questão de consentimento.

 "É meu corpo e deveria ser minha escolha.
O fato de não ser minha escolha é absolutamente nojento"

No final de agosto, várias famosas tiveram sua privacidade violada, entre elas Jennifer Lawrence. Várias fotos íntimas dela e de outras mulheres conhecidas no mundo do entretenimento foram roubadas e posteriormente colocadas na internet. Não preciso dizer que as fotos foram disponibilizadas sem o consentimento das vítimas, né?

Após o vazamento criminoso das fotos, as vítimas foram ofendidas e culpabilizadas, afinal, dentro do patriarcado, a sexualidade feminina é sempre atacada. As fotos das artistas rodaram o mundo, a internet em peso compartilhou as imagens ou pelo menos as visualizou.


A Atriz Mary E. Winstead, uma das vítimas dessa exposição em massa, publicou em seu twitter uma crítica a quem buscou as fotos dela com uma mensagem que poderia ser traduzida como "Para aqueles que estão olhando as fotos que eu tirei com meu marido há anos atrás na privacidade da nossa casa, espero que vocês se sintam ótimos com vocês mesmos."

Jennifer Lawrence demorou para se pronunciar sobre o acontecido, até que na entrevista para a revista Vanity Fair, a atriz falou sobre e como tamanha exposição mexeu com ela. Na matéria, ela deixou claro que o que ocorreu não foi um escândalo ou uma polêmica e sim um crime sexual. 

Ela afirma que temeu como a repercussão do caso poderia atrapalhar sua carreira e que tentou escrever diversas vezes sobre o acontecido, mas que sempre acaba ou com raiva ou chorando. Ela afirma também que chegou a começar a escrever um pedido de desculpas, mas que viu que não tinha motivo para se desculpar. A atriz falou várias vezes sobre o corpo ser dela e sobre escolha, deixando claro que visualizar as fotos vazadas é uma violação da escolha dela de não divulgá-las. Uma violação de consentimento.

Ao conceder essa entrevista, ela deu voz para várias mulheres que foram vítimas de revenge porn e que nunca tiveram onde se manifestar para serem ouvidas, mulheres que sofreram as consequências da exposição de imagens íntimas numa sociedade machista. Ela deixou claro que o vazamento criminoso de fotos é um crime sexual e que não deve ser relativizado por causa da existência das fotos e vídeos íntimos.

Jennifer Lawrence fez um favor para todos nós que combatemos o revenge porn, a objetificação do corpo designado feminino, a culpabilização da vítima e a demonização da sexualidade feminina ao dar um chega pra lá em todo mundo que diz "mas as fotos já vazaram mesmo" e buscam as fotos vazadas e as compartilham. 

Se as imagens estão na internet porque foram disponibilizadas sem o consentimento das fotografadas e filmadas, você ao buscar uma forma de visualizar as fotos viola a escolha dela de não ter essas fotos vistas por mais ninguém além do real destinatário. 

Jennifer Lawrence disse "Até pessoas que conheço e amo me disseram que viram as fotos. Não quero ficar com raiva, mas ao mesmo tempo penso que não disse a elas que elas podiam olhar para meu corpo nu". Vale a pena lembrar toda vez que ocorrer casos de revenge porn que não temos autorização para ver esses corpos, já que não somos destinatários desses nudes.

"Privacidade é um direito humano e mulheres, sendo anônimas ou não, devem ter seus direitos respeitados. Os corpos das artistas não pertencem ao fandom, nem aos sites de notícias e nem a quem as expôs. Os corpos das mulheres não pertencem aos namorados, companheiros, ficantes ou aos antigos relacionamentos delas. O corpo é delas e elas tiram fotos nuas se curtirem isso e compartilham apenas com quem elas quiserem e nós, internautas, que não somos os reais destinatários dessas imagens não devemos alimentar ainda mais essa exposição." - Trecho do texto do Ativismo de Sofá sobre exposição de fotos sem autorização das vítimas. 
As declarações de JLaw foram tão poderosas, que por represália editaram a página dela na Wikipedia adicionando as fotos roubadas. A página original já foi restaurada, mas o ocorrido serve de amostra da misoginia presente em nossa sociedade. Essa misoginia que quer punir a atriz pelas fotos ao saber que ela não vai pedir desculpa por ter sexualidade faz questão de tentar humilhá-la, mais uma vez, através das imagens.